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segunda-feira, 15 de julho de 2013

Policiais presos em operação recebiam até R$ 300 mil de propina de traficantes

Eles são suspeitos de passar informações das investigações aos criminosos

Ana Cláudia Barros, do R7*
Promotores fizeram buscas dentro da sede do Denarc nesta segunda-feira
Clayton De Souza/Estadão Conteúdo
Os policiais civis presos durante operação do Ministério Público e da Corregedoria da Polícia Civil recebiam até R$ 300 mil de propina de traficantes por ano. A informação foi confirmada pelo Ministério Público, após coletiva de imprensa na sede da SSP (Secretaria de Segurança Pública), na tarde desta segunda-feira (16).

Até as 16h de hoje, sete policiais já haviam sido presos. Destes, dois são delegados. Segundo o MP, foram expedidos pela Justiça 13 mandados de prisão, que devem ser cumpridos ainda nesta segunda-feira. Das 13 ordens judiciais, onze são contra integrantes ou ex-integrantes do Denarc (Departamento Estadual de Investigações sobre Narcóticos). As outras duas são referentes a policiais da cidade de Campinas.
Um dos delegados detidos é o supervisor da unidade de investigações do Denarc, Clemente Castilhone Junior. Segundo seu advogado, João Batista Augusto Filho, não foi informado o motivo da prisão.
Os policiais investigados são suspeitos de roubo, corrupção e extorsão mediante sequestro. De acordo com o promotor Amauri Silveira Filho, do Gaeco (Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado) de Campinas, durante diferentes momentos da investigação houve vazamento de informações.

— Desde que a investigação foi instaurada, houve vários tipos de vazamento. Houve uma intervenção de pessoas ligadas ao fatos, de pessoas estranhas aos fatos. Como é uma investigação que versou sobre várias pessoas, de órbitas diferentes e alguns fatos de relevo, alguns fatos graves foram detectados,  as informações referentes ao trabalho circulavam de maneira rápida, infelizmente. Mas o Ministério Público, a corregedoria e, principalmente, a Secretaria de Segurança, conseguiuram contornar todas as situações, de maneira a permitir que o trabalho pudesse seguir seu curso.
Durante esta manhã, promotores realizaram buscas dentro da sede do Denarc por cerca de quatro horas.
Investigação
A investigação foi instaurada pelo MP em outubro de 2012 e tinha, inicialmente, como objeto a atuação de traficantes, ligados a uma organização criminosa, que atuam na região de Campinas, segundo o promotor Amauri Silveira Filho.
— No curso do trabalho, foi detectado indicativos de possíveis desvios de condutas por parte de policiais. Como as situações eram conexas, tornou-se impossível a continuidade da investigação referente ao tráfico sem uma atenção específica sobre os desvios dos policiais, os fatos foram imediatamente comunicados à Secretaria de Segurança Pública e à Corregedoria da Polícia Civil, que, desde então, vem acompanhando o trabalho do Ministério Público e dando todo o suporte necessário.
De acordo com o promotor, ao longo dos últimos meses, os esforços foram direcionados em duas frentes distintas: a investigação em relação à organização criminosa e a identificação dos desvios praticados por policiais e quem seriam eles. Ele explica o motivo das prisões dos agentes suspeitos:
— Ocorre que, em um determinado momento da investigação, por conta de algumas condutas praticadas por policiais específicos, tornou-se impraticável a continuação do trabalho do Ministério Público, porque várias ações foram tomadas por esses policiais no sentido de prejudicar a apuração. Então, tentou-se forjar evidências, constranger vítimas e testemunhas. Daí, veio a necessidade de procurarmos o poder Judiciário para solicitar medida mais contundente, que é a prisão temporária dos policiais.

O promotor completa:
— É bom que fique claro que as medidas realizadas, as prisões temporárias e as buscas,  elas são medidas de investigação. Elas não importam na condenação e na acusação formal dos policiais que foram objeto das diligências.
O fato de se dizer que está se investigando os crimes de quadrilha, corrupção, extorsão, extorsão mediante sequestro não quer dizer, de maneira nenhuma, que todos os policiais estejam envolvidos em todos esses crimes. Obviamente, cada policial praticou um determinado fato. Alguns praticaram vários e outros praticaram apenas alguns. O trabalho do Ministério Público e da Corregedoria é exatamente dosar essa responsabilidade.

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